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Sexta-feira, Novembro 1, 2024

Dia da Mulher: paraibanas têm maior média de horas do Brasil dedicadas ao cuidado não-remunerado

Média semanal de horas dedicadas ao cuidado não-remunerado e/ou aos afazeres domésticos das paraibanas é a maior do Brasil. Número é o dobro do tempo gasto pelos homens nessas mesmas funções.

As mulheres paraibanas possuem a maior média de horas semanais dedicadas ao cuidado não-remunerado, ou seja, cuidando de pessoas próximas, sem receber pagamento financeiro por isso, segundo dados de 2019 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A média semanal de horas dedicadas ao cuidado e/ou afazeres domésticos é 23,1h, no caso das mulheres paraibanas brancas, e 26h no caso das mulheres pretas ou pardas.

Esse número é maior que o dobro da média dos homens paraibanos. No estado, homens brancos possuem a média de 11,3 horas semanais dedicadas ao cuidado, enquanto homens negros dedicam 11,9 horas ao serviço.

A média semanal nacional para mulheres brancas é 20,7 horas. Já para mulheres negras, a média é 22 horas. Portanto, as mulheres paraibanas passam mais tempo cuidando dos afazeres domésticos ou de outras pessoas, principalmente as mulheres negras.

Média de horas semanais dedicadas ao cuidado ou afazeres domésticos

Mulheres e homens na Paraíba201923,123,111,311,3262611,911,9Mulheres brancasHomens brancosMulheres negrasHomens negros051015202530

Fonte: IBGE

Na análise por grupos de idade, as mulheres paraibanas possuem aproximadamente o dobro dos homens na média de horas semanais dedicadas ao cuidado não-remunerado, em todas as faixas etárias analisadas. No grupo de 14 a 29 anos, a média para as mulheres é de 20,7 horas e para os homens é 10,5.

Na faixa etária de 30 a 49 anos, a média entre as mulheres é de 22,8 horas semanais dedicadas ao cuidado não-remunerado, e 12,1 horas entre os homens. No grupo de 50 a 59 anos, as mulheres têm média semanal de 22,4 horas dedicadas ao cuidado, contra 11 dos homens. Para as pessoas maiores de 60 anos, a média entre as mulheres é 24,7 e a dos homens é 11,3.

O cuidado com familiares sempre esteve presente na vida de Márcia Andrade, que mora em Uiraúna, no Sertão da Paraíba. Na infância, já assumia os afazeres domésticos. Depois, criou três filhas, hoje todas adultas, cuidou da avó, que já é falecida, e atualmente ajuda a cuidar de duas sobrinhas, uma de 16 anos e outra de nove.

A mulher, que hoje tem 54 anos, relata que gosta de cuidar das pessoas, mas confessa que se tivesse tido mais tempo para si, teria avançado nos estudos. Márcia estudou até a 6ª série do ensino fundamental e hoje trabalha vendendo lanches em uma escola da cidade.

As filhas de Márcia Andrade tiveram oportunidades diferentes e todas conseguiram se formar. A mulher acredita que se as mulheres tivessem maior ajuda, inclusive dos homens, poderiam se dedicar mais aos seus planos pessoais.

De acordo com dados da Pnad de 2021, a população da Paraíba é de aproximadamente 4.038.000, sendo 1.980.000 homens e 2.058.000 mulheres.

Com relação à população idosa, na Paraíba, há 235 mil homens com mais de 60 anos e 311 mulheres, 32% de diferença.

Moradores de instituições de longa permanência

Enquanto as mulheres paraibanas gastam mais horas cuidando das pessoas próximas, nem sempre elas são cuidadas por familiares ou amigos quando necessitam. Um exemplo disso é perceptível por meio dos números das instituições de longa permanência. Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Humano (SEDH), são 777 mulheres e 455 homens vivendo nestas residências no estado, o que corresponde a 70% de diferença.

Reflexo do machismo estrutural

Para Glória Rabay, pesquisadora em gênero e comunicação e professora da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), as atividades relacionadas ao cuidado são mais atribuídas às mulheres do que aos homens, como um reflexo do machismo estrutural.

“As desigualdades estruturais e o machismo estrutural que a gente pode falar nesse termo recaem sobre as mulheres de forma muito significativa quando a gente vai pensar no cuidado. As mulheres são as responsáveis pelos cuidados com as crianças, com os doentes, com os idosos”.

A pesquisadora destaca que, muitas vezes, quando as mulheres precisam ser cuidadas por pessoas próximas, essa necessidade não é atendida, o que justifica serem maioria nas instituições de longa permanência. Glória Rabay ressalta que essa realidade também acontece em hospitais e entre as mulheres privadas de liberdade, que recebem menos visitas do que homens.

“Quando essas mulheres adoecem ou envelhecem, dificilmente elas têm outras pessoas para cuidar delas. Esses números também se repetem nas instituições de doenças mentais e nos presídios. As mulheres encarceradas recebem menos visitas, têm menos parceiros fora do cárcere do que homens encarcerados”.

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